Um dia depois de a Polícia Federal apontar o presidente Michel Temer como integrante do “quadrilhão” do PMDB, o Palácio do Planalto reagiu em tom duro contra o que chamou de “garantias individuais violentadas”. Sem citar nomes, o texto divulgado pela Secretaria Especial de Comunicação Social faz ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e aos delatores do grupo J&F Joesley Batista e Ricardo Saud e às apurações da PF que podem resultar em novo inquérito contra o peemedebista.
“Facínoras roubam do país a verdade. Bandidos constroem versões ‘por ouvir dizer’ a lhes assegurar a impunidade ou alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes. Reputações são destroçadas em conversas embebidas em ações clandestinas”, diz trecho da nota da secretaria (veja a íntegra abaixo). O texto faz alusão ao encontro no último sábado, em um bar de Brasília, entre Janot e o advogado Pierpaolo Bottini, que representa os executivos da J&F.
“Muda-se o passado sob a força de falsos testemunhos. Vazamentos apresentam conclusões que transformam em crimes ações que foram respaldas em lei”, destaca o Planalto, ao citar o financiamento empresarial de campanhas eleitorais. “Desvios devem ser condenados, mas não se podem criminalizar aquelas ações corretas protegidas pelas garantias constitucionais.”
O Supremo deve examinar nesta quarta-feira (13) o pedido de suspeição de Janot apresentado pela defesa de Temer. A manobra faz parte da estratégia de evitar uma segunda denúncia do procurador-geral, que se despede esta semana do cargo, contra o presidente.
A reviravolta das delações de Joesley e Ricardo Saud deram munição ao Planalto contra Janot, que alega irregularidades e tenta derrubar o acordo de delação premiada, assim como as provas reunidas até o momento. Os dois executivos estão presos temporariamente desde domingo. Ex-assessor do procurador-geral, o advogado Marcello Miller é suspeito de ter feito “jogo duplo”, atuando como integrante da força-tarefa da Lava Jato e de atuar em defesa dos interesses da J&F.
Relatório concluído ontem pela PF aponta Temer, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco (Casa Civil e Secretaria-Geral, respectivamente), os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves (Secretaria de Governo e Turismo) e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha como integrantes de uma organização criminosa acusada de desviar recursos de órgãos públicos. Os peemedebistas negam. Os investigadores alegam que o presidente recebeu R$ 31 milhões em vantagens ilícitas.
Para a PF, Temer e Cunha tinham o poder de decisão no grupo para indicações para cargos na administração pública e na articulação de esquemas ilícitos com empresários. A PF também concluiu que Moreira Franco, Eliseu Padilha e Geddel agiam sob orientação de Temer para obter as propinas. Dos R$ 31,5 milhões, a PF apontou que os valores chegaram a Temer por Rodrigo Rocha Loures (R$ 500 mil), pela Odebrecht (R$ 10 milhões), pelo amigo de Temer, o coronel João Baptista Lima Filho (R$ 1 milhão) e pela Petrobras (R$ 20 milhões). Além desses valores, Temer também teria pedido mais de R$ 5 milhões para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012.
Veja a íntegra da nota da Presidência:
“O Estado Democrático de Direito existe para preservar a integridade do cidadão, para coibir a barbárie da punição sem provas e para evitar toda forma de injustiça. Nas últimas semanas, o Brasil vem assistindo exatamente o contrário.
Garantias individuais estão sendo violentadas, diuturnamente, sem que haja a mínima reação. Chega-se ao ponto de se tentar condenar pessoas sem sequer ouvi-las. Portanto, sem se concluir investigação, sem se apurar a verdade, sem verificar a existência de provas reais. E, quando há testemunhos, ignora-se toda a coerência de fatos e das histórias narradas por criminosos renitentes e persistentes. Facínoras roubam do país a verdade. Bandidos constroem versões “por ouvir dizer” a lhes assegurar a impunidade ou alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes. Reputações são destroçadas em conversas embebidas em ações clandestinas.
Muda-se o passado sob a força de falsos testemunhos. Vazamentos apresentam conclusões que transformam em crimes ações que foram respaldas em lei: o sistema de contribuição empresarial a campanhas políticas era perfeitamente legal, fiscalizado e sob instrumentos de controle da Justiça Eleitoral. Desvios devem ser condenados, mas não se podem criminalizar aquelas ações corretas protegidas pelas garantias constitucionais.
Fonte:https://www.noticiasbrasilonline.com.br/facinoras-roubam-do-pais-verdade-diz-planalto-apos-pf-apontar-temer-como-integrante-de-quadrilhao/?utm_medium=ppc&utm_source=site&utm_campaign=notification-site&utm_content=post-site&utm_term=notification-site
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